domingo, 29 de abril de 2012

Pai Omulu



Pai Omulú


Omulú é o orixá que rege a morte, ou no instante da passagem do plano material para o plano espiritual.

É com tristeza que temos visto o temor dos irmãos umbandistas quando é mencionado o nome do nosso amado Pai Omulú. E, no entanto descobrimos que este medo é um dos frutos amargos que nos foram legados pelos ancestrais semeadores dos orixás em solo brasileiro, pois difundiram só os dois extremos do mais caridoso dos orixás, já que Omulú é o guardião divino dos espíritos caídos.

O orixá Omulú guarda para Olorum (Deus) todos os espíritos que fraquejaram durante sua jornada carnal e entregaram-se à vivenciação de seus vícios emocionais.

Mas ele não pune ou castiga ninguém, pois estas ações são atributos da Lei Divina, que também não pune ou castiga. Ela apenas conduz cada um ao seu devido lugar após o desencarne. E se alguém semeou ventos, que colha sua tempestade pessoal, mas amparado pela própria Lei, que o recolhe a um dos sete domínios negativos, todos regidos pelos orixás cósmicos, que são magneticamente negativos. E Tatá Omulú é um desses guardiões divinos que consagrou a si e a sua existência, enquanto divindade, ao amparo dos espíritos caídos perante as leis que dão sustentação a todas as manifestações de vida.

Esta qualidade divina do nosso amado pai foi interpretada de forma incorreta ou incompleta, e o que definiram no decorrer dos séculos foi que Tatá Omulú é um dos orixás mais “perigosos” de se lidar, ou um dos mais intolerantes, e isto quando não o descrevem como implacável nas suas punições.

Mas o que encontrei nele não condiz com a forma como o “humanizaram” e, ano após ano, fui conhecendo uma divindade ímpar. Descobri-o como sendo a própria caridade divina para com os espíritos caídos nos campos da morte porque atentaram contra os princípios da vida.

Omulú, na linha da geração, que é a sétima linha de Umbanda, forma um par energético, magnético e vibratório com nossa amada mãe Yemanjá, onde ela gera a vida e ele paralisa os seres que atentam contra os princípios que dão sustentação às manifestações da vida.

Em Tatá Omulú descobri o amor de Olorum, pois é por puro amor que uma divindade consagra-se por inteiro ao amparo dos espíritos caídos. E foi por amor a nós que ele assumiu a incumbência de nos paralisar em seus domínios, sempre que começássemos a atentar contra os princípios da vida.

Enquanto nossa mãe Yemanjá estimula em nós a geração, o nosso pai Omulú nos paralisa sempre que desvirtuamos os atos geradores. Mas esta “geração” não se restringe só à hereditariedade, já que temos muitas faculdades além desta, de fundo sexual. Afinal, geramos idéias, projetos, empresas, conhecimento, inventos, doutrinas, religiosidades, anseios, desejos, angústias, depressões, fobias, preceitos, princípios, templos, etc.

Temos a capacidade de gerar muitas coisas, e se elas estiverem em acordo com os princípios sustentados pela irradiação divina, que na Umbanda recebe o nome de “linha da Geração” ou “sétima linha de Umbanda”, então estamos sob a irradiação da divina mãe Yemanjá, que nos estimula.

Mas, se em nossas “gerações”, atentarmos contra os princípios da vida codificados como os únicos responsáveis pela sua multiplicação, então já estaremos sob a irradiação do divino pai Omulú, que nos paralisará e começará a atuar em nossas vidas, pois deseja preservar-nos e nos defender de nós mesmos, já que sempre que uma ação nossa for prejudicar alguém, antes ela já nos atingiu, feriu e nos escureceu, colocando-nos em um de seus sombrios domínios.

Tatá Omulú só foi humanizado em seus dois pólos, ou nos seus extremos. E, se em seu pólo negativo e escuro ele é punidor, em seu pólo positivo ele é o orixá curador por excelência divina, que cura as “almas” feridas. “Humanizar-se” significa que o orixá ou a divindade assumiu feições humanas, compreensíveis por nós e de mais fácil assimilação e interpretação.

Ele é o excelso curador divino, pois acolhe em seus domínios todos os espíritos que se feriram quando, por egoísmo, pensaram que estavam atingindo seus semelhantes. E, por amor, ele nos dá seu amparo divino até que, sob sua irradiação, nós mesmos tenhamos nos curado para retornarmos ao caminho reto trilhado por todos os espíritos amantes da vida e multiplicadores de suas benesses. Todos somos dotados dessa faculdade, já que todos somos multiplicadores da vida, seja em nós mesmos, através de nossa sexualidade, seja nas idéias, através de nosso raciocínio, assim como geramos muitas outras coisas que tornam a vida uma verdadeira dádiva divina.

Em seu pólo positivo, é o curador divino e tanto cura nossa alma ferida quanto nosso corpo doente. Se orarmos a ele quando estivermos enfermos ele atuara em nosso corpo energético, nosso magnetismo, nosso campo vibratório e sobre nosso corpo carnal, e tanto poderá curar-nos quanto nos conduzir a um médico que detectará de imediato a doença e receitará a medicação correta.

Então pergunto: “Se Tatá Omulú é curador, ele não é a própria caridade para com os enfermos? E, se ele é curador, como podem descrevê-lo como um orixá temido?”

O orixá Omulú atua em todos os seres humanos, independente de qual seja a sua religião. Mas esta atuação geral e planetária processa-se através de uma faixa vibratória especifica e exclusiva, pois é através dela que fluem as irradiações divinas de um dos mistérios de Deus, que nominamos de “Mistério da Morte”.

Mas entendam este mistério como ele deve ser entendido, e não como o têm ensinado.

Tatá Omulú, enquanto força cósmica e mistério divino, é energia que se condensa em torno do fio de prata que une o espírito e seu corpo físico, e o dissolve no momento do desencarne ou passagem de um plano para outro. Neste caso ele não se apresenta como o espectro da morte coberto com manto e capuz negro, empunhando o alfanje da morte que corta o fio da vida. Esta descrição é apenas uma forma simbólica ou estilizada de se descrever a força divina que ceifa a vida na carne.

Na verdade, a energia que rompe o fio da vida na carne é de cor escura, e tanto pode parti-lo num piscar de olhos quando a morte é natural e fulminante, como pode ir se condensando em torno dele, envolvendo-o todo até alcançar o perispírito, que já entrou em desarmonia vibratória porque a passagem deve ser lenta, induzindo o ser a aceitar seu desencarne de forma passiva.

Este mistério regido por Tatá Omulú é um dos recursos de Deus e atua num momento de muita dificuldade para os seres, pois não é fácil, para alguém não preparado, esta viagem rumo ao desconhecido mundo dos espíritos ou dos mortos.

O orixá Omulú atua em todas as religiões e em algumas é nominado de “Anjo da Morte” e em outras de divindade ou “Senhor dos Mortos”.

A linha da Geração, é regida em seu pólo positivo, irradiante e multicolorido pela nossa Mãe da Vida, a orixá Yemanjá, e em seu pólo negativo, absorvente e monocromático (pois é de um azul tão concentrado que muitos o vêem como preto) pelo Tatá Omulu, senhor da Morte.

Omulu é negativo e seu magnetismo atrai os seres que se desvirtuaram e se tornaram estéreis. Se não criam mais nada, é hora de serem reduzidos a pó para que, nas águas de Yemanjá, voltem a ser espalhados, e que, no eterno movimento das marés, venham a ser reunidos, umidificados, fertilizados e renasçam para uma nova vida. Se Yemanjá umidifica e fecunda, Omulu seca e esteriliza.

Simbolicamente representamos Omulú com o alfange da morte, pois é ele quem reduz ao pó os que abandonam a vida. Mas também podemos representá-lo com o cruzeiro das Almas.


Fonte: Livro “O CÓDIGO DE UMBANDA”
Obra psicografada por Rubens Saraceni.

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