domingo, 29 de abril de 2012

Mãe Egunitá



Mãe Egunitá


É a Orixá Cósmica aplicadora da Justiça Divina na vida dos seres racionalmente desequilibrados.

Fogo, eis o mistério de nossa amada mãe Egunitá, regente cósmica do Fogo e da Justiça Divina que purifica os excessos emocionais dos seres desequilibrados, desvirtuados e viciados.

Em princípio, devemos alertar que não existe no panteão africano um Orixá feminino que seja puro fogo e que tenha chegado até nós, por uma causa muito simples: as divindades só humanizam os seus aspectos (qualidade, atributos e atribuições) que nos são úteis, dando amparo e estimulando nossa fé.

Logo, uma divindade do fogo, entre povos que viviam nas florestas, campos e matas, não seria bem vinda já que o fogo era, e ainda é, o mais temido dos elementos. Imaginem o medo que os índios brasileiros tinham do trovão e dos relâmpagos (Tupã) e de Anhanguará “o Espírito do Fogo”, e terão uma medida do pavor dos antigos povos africanos em relação aos trovões de Xangô e aos raios de Yansã. Só nisto terão uma medida de como eram temidas as divindades nas sociedades primitivas, que residiam em ocas ou tabas cobertas com folhas de palmeiras.

Imaginem uma tempestade violenta, que assusta até quem vive em relativa segurança, como não assustava os povos primitivos, muito mais expostos às intempéries climáticas. Uma divindade pura do fogo não seria entendida e cultuada, pois o fogo destruía suas choupanas, florestas, plantações e até suas vidas.

Afinal, o conhecimento dos antigos sacerdotes africanos não diferia muito do conhecimento que possuíam os pajés brasileiros, que se era vasto no trato com as ervas e os pós, no entanto, era frágil na religiosidade, que se fundamentava nos fenômenos da natureza.

Quem estuda as religiões e a religiosidade das pessoas entende o que estamos mostrando, assim como entende a ausência de uma divindade pura do fogo entre os povos africanos antigos, que nos legaram as belíssimas lendas dos Orixás.

Mas os hindus nos legaram uma divindade cósmica do fogo, punidora das falhas, dos erros e das paixões humanas. Kali, no panteão hindu, é uma divindade temida e evitada por todos os que desconhecem seu mistério e o porque de sua existência em oposição a Agni, o Senhor do Fogo Divino, o fogo da Fé.

O fato é que todas as irradiações divinas, enquanto são apenas essências, são neutras. Mas quando se condensam e dão origem aos elementos, aí se polarizam em todos os sentidos e assumem naturezas distintas. Pois aí, no fogo, surgem Agni e Kali. Ele é o fogo em seu aspecto negativo, ou o fogo da purificação das ilusões humanas.

Agni é o fogo da Fé e Kali é o fogo das paixões humanas. Agni é passivo e irradiante e Kali é ativa e atratora. Agni ilumina o ser e Kali o trono rubro. Agni é a serpente flamígea da Fé e Kali é a serpente rubra da paixão. Agni é a chama que aquece e Kali é o braseiro que queima.

Se recorremos às Divindades hindus Kali e Agni, foi para mostrar como um mesmo elemento possui dois pólos, duas naturezas, duas formas de nos alcançar e de nos estimular ou de nos paralisar; de acelerar ou paralisar nossa evolução; de estimular nossa Fé ou esgotar nossos emocionais desequilibrados.

Agora, coloquem no lugar de Agni o nosso amado Orixá Xangô e no lugar de Kali a nossa amada mãe Egunitá e teremos os mesmos aspectos divinos, mais irradiados por divindades humanizadas em solo africano. Teremos a linha pura do fogo elemental, cujas energias incandescentes e flamejantes tanto consomem os vícios quanto estimulam o sentimento de justiça, que são as qualidades, atributos e atribuições de Xangô e Egunitá: aplicar a Justiça Divina em todos os sentidos da vida!

Nossa mãe Egunitá é fogo puro e suas irradiações cósmicas absorvem o ar pois seu magnetismo é negativo e atrai este elemento, com o qual se energiza e se irradia até onde houver ar para dar-lhe esta sustentação energética e elemental. 
Como Egunitá (fogo) é feminina, ela se polariza com Ogum (ar), que é masculino e lhe dá a sustentação do elemento que precisa, mas de forma passiva e ordenada. Só assim suas irradiações acontecem de forma ordenada e alcançam apenas o objetivo que ela identificou. 
Se ela polarizasse com Iansã, suas energias não seriam irradiadas porque aconteceria uma propagação delas na forma de labaredas, já que as duas são de magnetismo e elemento feminino. Eis ai a chave das polarizações, que obedecem a uma ordenação das irradiações através dos magnetismos. 

O inverso acontece com Ogum, que é passivo e só se torna ativo em seu segundo elemento, que é o fogo que o alimenta, aquecendo-o e energizando suas irradiações. Ogum, enquanto aplicador da Lei, atua nos campos da justiça como aplicador das sentenças. 

Logo, se Ogum absorver o fogo de Xangô, que também é passivo em seu magnetismo, este fogo só irá consumir o ar de Ogum e não irá gerar a energia ígnea que fluiria como calor através das irradiações retas do seu magnetismo, que é passivo. 

Ogum é passivo no magnetismo eólico e ativo em seu segundo elemento, que é o fogo que energiza (aquece) o ar. 

Ogum irradia em linha reta (irradiação continua). Xangô irradia em linha reta (irradiação continua). Iansã irradia em espirais (irradiação circular). Egunitá irradia por propagação (irradiação propagada). 

Xangô polariza com Iansã, e suas irradiações passivas se tornam ativas no ar (raios); Egunitá polariza com Ogum, e suas irradiações por propagação magnética assumem a forma de fachos flamejantes. 

Observem que Lei e Justiça são inseparáveis e para comentarmos Egunitá temos de envolver Ogum, Xangô e Iansã, que são os outros três orixás que também se polarizam e criam campos específicos de duas das Sete Linhas de Umbanda. Ela é cósmica (negativa) e seu primeiro elemento é o fogo, que se polariza com seu segundo elemento que é o ar. Portanto, como o fogo é o elemento da linha da Justiça, ela é uma divindade que aplica a Justiça Divina na vida dos seres. 

E, porque o ar é o seu segundo elemento, que a alimenta e energiza e é o elemento da linha da Lei, ela é uma divindade que aplica a justiça como agente ativa da Lei e consome os vícios emocionais e os desequilíbrios mentais dos seres. Os vícios emocionais tornam os seres insensíveis à dor alheia. Os desequilíbrios mentais transformam os seres em tormentos para seus semelhantes. 

As divindades têm uma função a realizar e nós sempre seremos beneficiários de sua atuação. Quando nos paralisam, também estão nos ajudando, pois estão evitando que continuemos trilhando um caminho que nos conduzirá a um ponto sem retorno.

Ela é o fogo que consome as paixões (fanatismos) nos seres. Quando perdemos a razão (senso de justiça) e nos deixamos conduzir pelo calor emocional, Egunitá nos atrai e esgota esse fogo destrutivo que nossas paixões estão gerando.

Simbolicamente representamo Egunitá com o raio que é o fogo que vem do alto e queima a quem a atinge.


Fonte: Livro “O CÓDIGO DE UMBANDA”
Obra psicografada por Rubens Saraceni

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